Tudo começa com a escolha do frango: é óbvio que tem de ser caipira. Não muito jovem, por que senão ficaria parecendo pombo, nem já quase galo, para a carne não ser dura. Meu velho usava os olhos e um cacete, normalmente um pedaço galho retorcido, de uns 60 cm e pesando uns 2 quilos. No mais das vezes, bastava uma; ele quase sempre acertava de primeira. Sabendo disso minha mãe já deixava a água quente, para depenar o abençoado. Limpá-lo e picá-lo era tarefa do meu pai. Minha mãe limpava a guariroba. Eu ia até a horta: a salsinha mais fresca, algum cebolinha. três ou quatro pimentas olho de bode, amarelas e sadias. O Açafrão-da-terra já tínhamos, era o que colhíamos todo ano. Refogado bem o frango, colocava-se o açafrão da terra, sal e água. O cheiro verde era para quando se retirasse a panela de ferro do fogo.
Enquanto isso, na boca maior do fogão a lenha, taca a água para ferver, fazer o macarrão, daqueles grandes, de 60 cm, grossos também. Minha mãe a ralar o queijo e meu pai a preparar o molho: bastante extrato de tomate e cebola, alho com fartura. Na terceira boca do fogão, a segunda menor, se fazia o angu de milhop verde, um clássico; na menor o alho ia dourando na banha de porco, só esperando o feijão roxinho, bem cozido, que seria refogado e batido a mão, com rosetas de inox. Serviço de menino.
Com as coisas bem adiantadas, era hora de cortar o alface, fresquinho da horta e já lavado na bica, de folhas enormes. Coisa bem feita, de mãe mesmo. Meu pai batia o pepino, uns três, de tamanho médio, batidos até ficarem pequenininhos. Daí, ato final, acrescentar o cheiro verde, cortar os tomatões (havia vermelhos e amarelos) em rodelas grossas, generosas.
Pratos esmaltados em branco, com desenhos quase infantis. Os garfos eram do tempo de meu avô: na roça não se usava quase faca de mesa. Suco era da fruta que houvesse na época: o pomar era extenso e variado na sua generosidade sazonal. Mas clássico mesmo era limonada, de limão cravo.
Comia-se numa alegria ruidosa, por sobre a mesa mais velha que o mundo, grande e de aroeira. Almoço feito? Hora do “quilo”. Pai e mãe. Por que eu pegava minha felicidade incontida, pisava no piso de tábuas de madeira, descia a escada, atravessa o rego d’água, o mangueiro dos porcos, imenso e com a sombra de 30 mangueiras e ia dar no córrego. Se tivesse jambo ou angá, claro que os comia.
Mas se não, nem me importava. Minha felicidade era colocar os pés dentro da água e olhar os peixes no fundo raso, a imaginar cada lambari como se fôra um dourado, e eu, o imaginário imperador dos peixes do mundo, com a felicidade que as pessoas todas deveriam ter, aos 10 anos.
por http://www.blogdoatheneu.org/blog/?p=3448
Enquanto isso, na boca maior do fogão a lenha, taca a água para ferver, fazer o macarrão, daqueles grandes, de 60 cm, grossos também. Minha mãe a ralar o queijo e meu pai a preparar o molho: bastante extrato de tomate e cebola, alho com fartura. Na terceira boca do fogão, a segunda menor, se fazia o angu de milhop verde, um clássico; na menor o alho ia dourando na banha de porco, só esperando o feijão roxinho, bem cozido, que seria refogado e batido a mão, com rosetas de inox. Serviço de menino.
Com as coisas bem adiantadas, era hora de cortar o alface, fresquinho da horta e já lavado na bica, de folhas enormes. Coisa bem feita, de mãe mesmo. Meu pai batia o pepino, uns três, de tamanho médio, batidos até ficarem pequenininhos. Daí, ato final, acrescentar o cheiro verde, cortar os tomatões (havia vermelhos e amarelos) em rodelas grossas, generosas.
Pratos esmaltados em branco, com desenhos quase infantis. Os garfos eram do tempo de meu avô: na roça não se usava quase faca de mesa. Suco era da fruta que houvesse na época: o pomar era extenso e variado na sua generosidade sazonal. Mas clássico mesmo era limonada, de limão cravo.
Comia-se numa alegria ruidosa, por sobre a mesa mais velha que o mundo, grande e de aroeira. Almoço feito? Hora do “quilo”. Pai e mãe. Por que eu pegava minha felicidade incontida, pisava no piso de tábuas de madeira, descia a escada, atravessa o rego d’água, o mangueiro dos porcos, imenso e com a sombra de 30 mangueiras e ia dar no córrego. Se tivesse jambo ou angá, claro que os comia.
Mas se não, nem me importava. Minha felicidade era colocar os pés dentro da água e olhar os peixes no fundo raso, a imaginar cada lambari como se fôra um dourado, e eu, o imaginário imperador dos peixes do mundo, com a felicidade que as pessoas todas deveriam ter, aos 10 anos.
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