terça-feira, 21 de abril de 2009

O Iraque com o Pé e o Sapato e a mídia com a Bunda: é justo!


O Iraque com o Pé e o Sapato e a mídia com a Bunda: é justo!

O jornalista Richard Roth, da CNN, descreveu assim o incidente “da sapatada” em Bush, um dia após o caso: “A mensagem de progresso de Bush foi ofuscada em Bagdá em função da impopularidade dele”. Roth também entrou na questão do “simbolismo da sapatada” na cultura árabe, trazendo ainda uma referência aos homens que bateram com sapatos na estátua de Saddam Hussein quando ela foi retirada em 9 de abril de 2003. Baseando-se nesse artigo da CNN, muitas outras emissoras do mundo ocidental noticiaram a relação da sapatada de Zaidi com as sapatadas na estátua de Saddam Hussein.
Acontece que em momento algum a mídia ocidental explicou que o caso das sapatadas na estátua fez parte de um teatro organizado pelas forças estadunidenses, e pouco tinha a ver com a indignação do povo iraquiano. Como relatou o jornalista David Zucchino, do Los Angeles Times, na edição do jornal de 3 de julho de 2004: “Foi um coronel do Exército dos Estados Unidos, e não um grupo de civis iraquianos alegres, como se imagina pelas imagens da televisão, que decidiu derrubar a estátua. Foi uma divisão do Exército, focado em operações psicológicas, que teve a idéia de fazer parecer que teria sido uma ação espontânea dos iraquianos”. Enfim, tudo foi um teatro armado para dar credibilidade internacional às forças invasoras.
Mesmo ignorando a realidade de que a derrubada da estátua e as sapatadas foram uma encenação, a comparação que marcou os noticiários do Ocidente continuam desonestas. Enquanto Saddam Hussein é claramente descrito como “odiado” por muitos iraquianos pelo “governo opressor” que conduzia, Bush é “impopular” pela falta de “progresso” no Iraque – um termo que é propositalmente deixado em aberto, podendo significar qualquer coisa entre progresso nos serviços básicos do país até a questão da segurança. Em nenhum momento é discutido o papel de Bush na invasão ilegal e ocupação violenta do país, que deixou mais de um milhão de vítimas civis.
Muntadar al-Zaidi foi recentemente julgado culpado por um grupo de juízes e advogados - que não teriam poder algum sem os Estados Unidos, e sentenciado a 3 anos de prisão por “agredir um chefe de Estado em uma visita oficial”. Ao contrário do que a mídia ocidental noticiou dias depois do ocorrido, ele não se mostrou arrependido: “Enquanto Bush falava, eu analisava as “conquistas” dele: mais de um milhão de mortos, mesquitas profanadas e destruídas, violação de nossas mulheres, civis mortos todos os dias. A nação inteira sofre por causa das políticas dele, e ele estava ali, falando com um sorriso na cara, contando piadas ao primeiro-ministro”, disse Zaidi no tribunal, justificando o ataque “em nome das viúvas, órfãos e todos os mortos iraquianos”. Obviamente, as palavras de Zaidi nunca foram transcritas na mídia ocidental.
Seja lá qual for a narrativa, Zaidi como herói ou vilão, fato é que o jornalista é um típico homem iraquiano, honestamente revoltado contra a destruição do Iraque causada pelos Estados Unidos e países aliados. A ação dele foi reduzida a simbologias inúteis no Ocidente, provavelmente porque ele era um combatente iraquiano de um tipo diferente, um tipo que não corresponde aos estereótipos deturpados do mundo ocidental. Ele não era um soldado insurgente, ou um dos chamados “homens-bomba”. Zaidi desafiou não somente Bush e a trágica ocupação do Iraque, mas a percepção da mídia de toda a guerra.
@ Leia o Oriente Médio Vivo

Vera L. Silva

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